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A máfia dos bichos por Paula Rodrigues, Ecoa, São Paulo

Atualizado: 29 de jun. de 2021

Muito além de reality, tráfico de animais no Brasil tira 38 milhões de bichos da mata por ano e gira R$ 3 bi


Veja a contribuição da Dra Juliana M Ferreira, diretora-executiva da Freeland Brasil neste artigo.


"Existem atividades que alimentam esse mercado. Ganha-se bastante dinheiro com torneio de canto de passarinho, com rinha de aves, por exemplo", explica Juliana Machado Ferreira, doutora em biologia pela USP (Universidade de São Paulo) e diretora geral da Freeland Brasil, organização cuja missão é a conservação da biodiversidade por meio do combate ao tráfico de espécies silvestres.


Afinal, que animais são esses? A biológa Juliana Machado Ferreira, diretora geral da Freeland Brasil, explica as diferenças entre animais silvestres nativos, exóticos, invasores e animais domésticos.

Silvestre nativo vs. exótico "É o que tem área de ocorrência dentro de determinada fronteira. É o que tem área de ocorrência natural no território brasileiro ou passa algum momento do seu ciclo de vida por aqui. Portanto, os exóticos são os que não são nativos?

Invasor "É o que se tira da área natural de ocorrência dele e se coloca em outra. Por exemplo, o galo da campina da caatinga foi trazido para o Sudeste para ser mantido em cativeiro, mas escapou e começou a se reproduzir. Assim, acabou se estabelecendo em uma região que não era a dele. A espécie invasora é aquela que começa a colonizar fora da área de ocorrência natural. Dentro disso, temos os invasores nocivos, que passam a competir com o animal nativo por recursos, que não tem predadores naquela região nova, por exemplo." Doméstico "São espécies que foram selecionadas de uma forma artificial pelos seres humanos ao longo de muitas gerações. Esses animais sofreram alteração de aparência, fenotípica. E também na genética. Portanto, eles não têm mais uma função ecológica na natureza, os silvestres têm."


A bióloga e diretora geral da Freeland, Juliana Machado, explica que é necessária a presença de fiscalização do Estado não apenas pela questão ambiental e para assegurar o bem-estar do animal, mas também para tomar providências quanto às necessidades relacionadas ao bem-estar das pessoas que residem próximas aos lugares onde são feitas as capturas. "Nós fazemos um trabalho em um local, com as pessoas daquele lugar, mas aí os traficantes começam a comprar em outro local. E por quê? Porque essas também são questões sociais", ressalta. "É preciso olhar para essas pessoas que estão morando em área rural e precisam de alguma fonte de renda regular. O Estado precisa pagar essa conta na forma de saneamento básico, educação, capacitação e cursos profissionalizantes, atividades econômicas que não sejam detrimentais ao meio ambiente, à saúde."


"Os cativeiros são reservatórios de doenças, tanto as conhecidas quanto as que não sabemos ainda. Salmonella, hantavirose, leptospirose, raiva, clamídia... São inúmeros os exemplos de moléstias mais ou menos graves. O que aconteceu com o ebola, por exemplo, ou a primeira Sars, e agora nessa, com o novo coronavírus. São zoonoses", explica a bióloga Juliana Machado Ferreira.


Juliana relembra: ecossistemas não conseguem se regenerar sem todos os componentes que fazem parte dele. E isso inclui os animais silvestres.


"Esse tráfico causa a chamada defaunação, que é a redução do número de espécies e indivíduos na fauna. Sem esses animais, não é possível realizar a polinização, a dispersão de sementes, por exemplo. Você tem uma alteração no nível de paisagem, alteração dos cursos de água, e a perda da capacidade de armazenar carbono em florestas tropicais. As consequências são inúmeras. Não é como se estivessem retirando esses animais para produzir vacina ou serem utilizados para pesquisas, é só porque algumas pessoas querem ter bichos em cativeiro" Juliana Machado Ferreira, bióloga e diretora geral da Freeland

A transação penal é um acordo feito com o infrator, que não envolve o infrator admitindo culpa, e tendo acesso a penas alternativas, como pagamento de cestas básicas ou serviço comunitário", conta Juliana Machado. "Além disso tem a tipificação do crime. Eles trazem muitos verbos: quem vende, quem transporta, quem tem em cativeiro? A lei não faz distinção entre a pessoa mal informada que tem um papagaio em casa do traficante recorrente", completa.


Juliana Machado explica que a Freeland trabalha em três frentes: educação e conscientização com intuito de reduzir a demanda de espécies silvestres, apoio a agências de combate ao crime com desenvolvimento de pesquisas e capacitação de servidores públicos e, por fim, apoio técnico para criação de projetos de lei.


Não existe uma percepção por parte da sociedade de que isso [comércio ilegal de animais silvestres] é um crime sério. O Estado está falhando em passar essa mensagem para a sociedade. Falta uma conscientização da população sobre os efeitos em cascata que a retirada dos animais da natureza em grande volume acarreta. Não existe uma clareza sobre a importância de ecossistema saudável. É só olhar a situação que a gente vive hoje. Juliana Machado Ferreira, bióloga e diretora geral da Freeland
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